01) Conte um pouco sobre sua origem.
Sou mineira de Belo horizonte, nascida e criada! Venho de uma família 
muito simples, mas muito amorosa. Frequentei e me formei no Colégio 
Estadual Santos Dumont.
02) Conte um pouco da sua trajetória profissional.
Na adolescência, trabalhei em uma galeria de arte e depois com 
telemarketing. Aos 18 me mudei para São Paulo e me joguei como hostess. A
 última casa que trabalhei foi no Restaurante 00. Paralelamente, sempre 
trabalhei como modelo e atualmente sou uma das modelos do estilista 
Walerio Araújo. 
A área de trabalho mais recente é a atuação em teatro.  Estou exercendo a
 atriz que existe em mim, mesmo sendo profissional em formação. Afinal, 
penso que para me tornar uma artista experimente preciso exercitar o 
ofício "in loco".
03) Quais as maiores dificuldades para se trabalhar com arte e
    cultura no Brasil?
Acredito que o que depende da gente é mais fácil, ou seja estudar muito,
 aprender mais e mais, reciclar, investir no crescimento. Mas o artista 
depende da plateia, daí, temos uma dificuldade maior. O público 
brasileiro de teatro ainda busca muito as produções estreladas por 
famosos. As pessoas se sentem mais seguras escolhendo o espetáculo cujo 
elenco tenha conhecidos da TV, do que se arriscando em outras opções.
04) O espetáculo "A Curra" mostra sérios problemas brasileiros, como
    a falência do nosso sistema prisional, a transmissão do HIV nas
    prisões, o descaso com os doentes, o preconceito explícito com os
    LGBTs presos. O que você sugeriria para melhorar este sistema?
Com investimento de recursos aliado ao avanço cultural e a educação, 
assim mudamos uma sociedade. Mudanças básicas que podem refletir no 
nosso sistema prisional, na assistência médica, em geral. 
Ensinar o respeito e conviver com a diversidade, no dia a dia, são 
maneiras de educação possíveis para se acabar com o preconceito. Digo 
isso por ser uma trans buscando reconhecimento, enquanto profissional e 
cidadã. 
Acredito também no desenvolvimento de projetos de inclusão social! Por 
que não colocar grupos LGBTs para cuidarem deste assunto nas 
penitenciarias, também?
05) Você acredita que nossas prisões deveriam ser, realmente,
    divididas por gêneros? Ou seja, respeitando o gêneros dos
    transexuais, de maneira que o que contasse fosse o gênero readequado
    e não o de nascença? 
Totalmente!... Isto seria uma grande diferença no convívio dos presos. É
 respeitar a dignidade humana sem interferência nos deveres dos presos, 
uma vez que não estaríamos dando regalias naquilo que se refere ao 
cumprimento da pena.
06) Você acredita que os LGBTs sofrem muito preconceito, também no
    trabalho com arte e cultura?
Sim, com certeza. Eu, particularmente, nunca tive nenhuma situação 
constrangedora, ainda! No Teatro Escola Macunaíma são todos 
maravilhosos. Mas, tenho medo.
07) Você acredita que o espetáculo "A Curra" tem uma função de
    responsabilidade social, a partir do momento que mostra como é
    importante que a nossa sociedade enxergue os nossos presos com a
    dignidade de seres humanos?
Sim! Acho que com a dignidade de cidadão! Alguém que foi julgado e 
cumpre pena. O importante é haver justiça quando se julga e se decreta 
uma pena. A pena deve ser coerente com a sociedade! Deve ser tão justa e
 satisfatória com o preso, quanto com a vítima do crime. Fiquei 
pensativa com a pergunta... Sempre há um detento que precisa estar 
distante da sociedade, até que se recupere, ou algum que está sendo 
injustiçado. Enfim, cada caso é um caso e a justiça é o que deve 
prevalecer. A justiça deve ser digna.
08) Vocês tiveram algum apoio dos setores ligados aos LGBTs para
    produzir o "A Curra"?
Sim!
09) Qual a sensação de ter o teatro lotado desde a estreia?
Para mim, que ainda estou estudando, poder mostrar um talento tem sido 
maravilhoso. Estou orgulhosa do grupo e do diretor que é uma pessoa 
muito querida!
10) Quais são os seus planos e desejos para o futuro próximo?
Me vejo na TV atuando como uma atriz qualquer. Não quero ficar presa 
apenas aos papeis de transgêneros. Quero mostrar que sou mulher e muito 
mulher!
Quero realizar o meu sonho de fazer um filme de ação com a Angelina Jolie (risos).
11) Há algo que a Melissa Paixão queira dizer para o público?
Quero agradecer a Revista Cliquish pelo espaço e a todos que têm ido ver
 o espetáculo. Um beijo muito grande para meus fãs, que me apoiam e 
sempre mandam palavras lindas de incentivo. Um beijo a todas as trans, 
travestis, crossdessers e afins do Brasil. Farei o máximo para mudar 
nossa imagem perante a sociedade. SEMPRE!
Por REVISTA CLIQUISH